Carpe Covidiem

Ana Claudia de Souza
2 min readApr 3, 2021

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Mesmo em meio a crise sanitária que estamos vivendo, não é raro chegar ao nosso conhecimento a realização de grandes festas e baladas que seguem funcionando clandestinamente. Há até uma página no Instagram chamada “brasilfedecovid” reunindo as mais diversas denuncias de aglomerações pelo país.

No início, quando tínhamos a ilusão de que isto duraria somente alguns dias, a adesão à quarentena parecia ser maior. As ruas ficaram mais vazias, as pessoas postavam em suas redes sociais seus momentos curtindo as lives que foram promovidas por vários artistas… mas desde que notamos que nossa realidade seguiria sendo esta por mais algum tempo, as coisas mudaram. Desde que os bares e restaurantes voltaram a abrir, a vida de muitas pessoas voltou ao normal. Com o pretexto de estarem “seguindo todos os protocolos”, parece que tudo tornou-se permitido. Daí em diante, não houve mais decreto que impedisse as pessoas de aglomerarem.

Sempre que vejo estes vídeos, de pessoas despreocupadas, como se tais ações não trouxessem nenhuma consequência, penso em como conceitos como “Carpe Diem” e o mais recente “YOLO (You Only Live Once) devem ter uma grande influência no comportamento dessa galera.

É claro que o momento político que estamos vivendo tem grande culpa. As notícias falsas, o negacionismo e todo o chorume propagado por pessoas ignorantes e sem caráter. Mas essa é a parte obvia da qual todos falam. Minha reflexão não é sobre isso. É sobre essa ideia de “viver o aqui e agora”, “aproveitar cada dia como se fosse o último”, “só se vive uma vez”. Abre-se mão de ponderar as consequências dos atos em nome de uma noite de diversão, pois amanhã ou depois você não sabe se vai estar vivo mesmo.

Não sei vocês, mas as vezes eu tenho a impressão de que esta pandemia, ao menos para nós brasileiros, nunca vai acabar. E talvez estas pessoas agem dessa forma por terem esta mesma sensação, e por agirem assim tornam esse sentimento cada vez mais próximo de se tornar real criando então um circulo vicioso que se retroalimenta a cada dia.

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Ana Claudia de Souza

Poeta, ilustradora, militante, periférica, ateia, marxista-leninista.